quinta-feira, julho 14, 2011


Alergia

Quando dobraram a esquina, ele achou que ela o beijaria. Ela não tem olhos de cigana, nem é obliqua ou dissimulada, mas esconde naquelas grandes ametistas um mistério só dela.

E então ele foi embora. Revirou gavetas e procurou antigas fotos. Preferiu o sorriso do passado, quando a ilusão era esperança – ou quando era iludido e era feliz.

E no último esforço da noite, assoprou a poeira da imagem mais antiga. E torceu para que o que sentia se misturasse ao que pairava no ar e fosse embora.

domingo, julho 10, 2011


Cigano

Perdido naquela beleza alheia aos seus braços, bebendo de um veneno que já não mais pratica doses homeopáticas. Agora é tempestade, uma água que inunda e nada limpa, tomando conta de um sentido após o outro.

E a vida rasga o dia desenhando impossibilidades. A senhora segura a mão do outro e diz que vê ali um mapa. Mas a noite cai, exalando perfumes inalcançáveis que não trilham caminho algum. E como qualquer um, é possível sentir-se pequenino, ansioso, e acima de tudo, só.

“Que caminhos me aponta?”, pergunta o incrédulo. A voz serena daquela que guarda respostas se dilui no barulho do viaduto, repleto de fumaça e gente perdida no desespero diário da cidade. Antes que ela comece, já lembra que são muitas as linhas nas palmas de suas mãos. Há vida e morte, saúde e doença, amor e ilusão. O incrédulo baixa os olhos, mira suas mãos abertas e agora quer que ela responda por que nada para entre seus dedos.

Então sonhe, homem. Sonhe alto, sonhe forte. Por que quando a neblina do futuro pairar, é o sonho que te impede de morrer.