sábado, junho 09, 2012

HC


Dentro de um círculo formado por duas mesas em forma de lua, doutores quase meninos se revezam entre o flanar e a falta de estrutura.

Eles formam uma casta atípica, delimitada pela ausência de negros e sobrenomes comuns. Um desses não sabe como uma paciente pode fazer para se vestir nesses corredores, mas com agilidade volta para o pc e quase se masturba com a tomografia de um caso que não é seu. Abaixo dessa casta, traços não europeus e sobrenomes como silva e santos caracterizam o time daqueles que dizem que o banheiro é o vestiário de quem teve alta, mesmo com acessos expostos.

Um novo garoto de jaleco engrossa o time. Depois de assumir a papelada de um óbito, o único representante da neurologia percorre sua via crucis. Com sua ausência, os casos acumulados cobram a urgência que sempre tiveram. Ele despacha como pode, gritando nomes de gente que não consegue se mexer. Pacientes psiquiátricos dividem os corredores com os demais. Uma senhora tem um surto. Ela ganha um abraço terno do médico responsável enquanto diz "não aguento mais" repetidas vezes.

Todos queriam o mesmo abraço. Ninguém aguentava mais.