Café para dois

E então dividi a mesa com aquela senhora. Era uma mesa redonda e estávamos cada qual em um dos seus pólos, ampliando ao máximo a distância que aquele móvel poderia oferecer.

Ela não parecia cansada, nem hesitante como em outros tempos. A náusea que causaria a transformação de teimosia em perseverança, numa dessas alegorias de fundo religioso, já era conhecida da minha úlcera, então os eventos seguintes não fugiram do protocolo habitual.

As rugas agora delimitam a fronteira dos anos. Para cada uma delas, uma década de distância, desenhando os contornos de um latifúndio chamado família. Eles se cruzam por um rosto amargurado, marcado por mais erros que acertos, e que por vezes se recusou a se voltar para o lado, para o próximo.

Mas não é preciso fazer mais nada. As xícaras estão vazias, como os olhos que se fitam apenas por acidente, ou como as almas que beberam aqueles cafés.