A manobra Ricardo Reis
Em “O ano da Morte de Ricardo Reis”, Saramago dá sua sequência ao paradeiro de Ricardo Reis, que retorna a Portugal após uma ausência de 16 anos, como conta aquele que o realmente o concebeu: Fernando Pessoa.
E por meio do heterônimo de Pessoa, Saramago desenhou a famosa “manobra Ricardo Reis”.. O escritor faz o seu Ricardo Reis amarrar uma carta de amor, habilidade questionável da cria de Pessoa, com um verso do poema “No breve número”, (“Breves são os anos, poucos a vida dura”), de Ricardo Reis (o heterônimo). Confuso? Veja trecho abaixo:
“(...)gozemos o momento, solenes na alegria levemente, verdesce a cor antiga das folhas redivivas, sinto que quem sou e quem fui são sonhos diferentes, breves são os anos, poucos a vida dura, mais vale, se só memória temos, lembrar muito que pouco, e lembrá-la a si é quanto tenho hoje na memória guardado, cumpramos o que somos, nada mais nos foi dado, e assim chega uma carta ao fim, tão difícil nos pareceu escrevê-la e saiu correntia, basta não sentir muito o que se diz e não pensais muito no que se escreve, o mais que houver de ser depende da resposta.”
E o poema:
No breve número
No breve número de doze meses
O ano passa, e breves são os anos,
Poucos a vida dura.
Que são doze ou sessenta na floresta
Dos números, e quanto pouco falta
Para o fim do futuro!
Dois terços já, tão rápido, do curso
Que me é imposto correr descendo, passo.
Apresso, e breve acabo.
Dado em declive deixo, e invito apresso
O moribundo passo.
A “manobra Ricardo Reis” ainda me é útil, seja fazendo aquele cartão imbecil para alguma data burocrática ou na definição exata do meu ofício.
Saramago deu seu passo para o fim do futuro na manhã de ontem, em sua casa em Lanzarotte, nas Ilhas Canárias onde se auto-exilou por conta de divergências com o governo português, tal qual Ricardo Reis e seus tempos no Brasil. Se estava pronto (para morrer)? Provavelmente há muito tempo.
*Nota dos editores: José Saramago não conheceu a manobra Ricardo Reis.
Em “O ano da Morte de Ricardo Reis”, Saramago dá sua sequência ao paradeiro de Ricardo Reis, que retorna a Portugal após uma ausência de 16 anos, como conta aquele que o realmente o concebeu: Fernando Pessoa.
E por meio do heterônimo de Pessoa, Saramago desenhou a famosa “manobra Ricardo Reis”.. O escritor faz o seu Ricardo Reis amarrar uma carta de amor, habilidade questionável da cria de Pessoa, com um verso do poema “No breve número”, (“Breves são os anos, poucos a vida dura”), de Ricardo Reis (o heterônimo). Confuso? Veja trecho abaixo:
“(...)gozemos o momento, solenes na alegria levemente, verdesce a cor antiga das folhas redivivas, sinto que quem sou e quem fui são sonhos diferentes, breves são os anos, poucos a vida dura, mais vale, se só memória temos, lembrar muito que pouco, e lembrá-la a si é quanto tenho hoje na memória guardado, cumpramos o que somos, nada mais nos foi dado, e assim chega uma carta ao fim, tão difícil nos pareceu escrevê-la e saiu correntia, basta não sentir muito o que se diz e não pensais muito no que se escreve, o mais que houver de ser depende da resposta.”
E o poema:
No breve número
No breve número de doze meses
O ano passa, e breves são os anos,
Poucos a vida dura.
Que são doze ou sessenta na floresta
Dos números, e quanto pouco falta
Para o fim do futuro!
Dois terços já, tão rápido, do curso
Que me é imposto correr descendo, passo.
Apresso, e breve acabo.
Dado em declive deixo, e invito apresso
O moribundo passo.
A “manobra Ricardo Reis” ainda me é útil, seja fazendo aquele cartão imbecil para alguma data burocrática ou na definição exata do meu ofício.
Saramago deu seu passo para o fim do futuro na manhã de ontem, em sua casa em Lanzarotte, nas Ilhas Canárias onde se auto-exilou por conta de divergências com o governo português, tal qual Ricardo Reis e seus tempos no Brasil. Se estava pronto (para morrer)? Provavelmente há muito tempo.
*Nota dos editores: José Saramago não conheceu a manobra Ricardo Reis.