A tradição contínua e não questionável da porra do final de ano
Um ano consegui concretizar um sonho antigo e fiquei sozinho na fatídica noite de natal. Os desdobramentos foram enormes, com gente me acusando, como se eu “não pudesse fazer isso com os outros”, e apontando dedos como seu eu fosse o norte da delinqüência. Eu só queria ter o direito de dizer “não”. Só isso.
Outro dia, na fila do posto de gasolina, disse que, com base na tal lei cidade limpa, denunciaria uma série de prédios que ostentam gambiarras chinesas com o espírito natalino. Inclusive, coloquei na lista as fachadas de bancos e o caralho. Argumentei que, além do desperdício de energia elétrica, leis são leis e não entram em recesso em nome do aniversário do filho do criador. Se não tivesse verificado o papelzinho do cartão do banco e pedido o estorno de R$ 500,00 de um tanque de gasolina, o ódio súbito do frentista teria financiado a caixinha de natal do posto inteiro.
Mas tudo pode ficar pior. Por vezes, o natal é a costura de uma colcha de retalhos chamada família. Em outras vezes, ainda, pedaços adjacentes são incorporados sem que a alfaiataria católica dê o ponto e cruz da santa igreja. E é assim que o agregado fica com os pés descobertos enquanto patriarcas levantam taças e brindam Jesus. A linha é curta, frágil e a emenda de panos tão diferentes fica ainda mais evidente.
PPM tratou da comoção do “boas festas” no seu boletim de 28 de dezembro de 2007. À época, havia uma sombra de esperança. De lá lembramos que o amanhã é sempre um bom sujeito, o cara que traz o alento da incerteza – e é ela que motiva tanta gente a arriscar no dia seguinte. Mas a vida fica mais previsível a cada dia que passa. E o cotidiano é uma miopia quase sem cura.
Quase. Até amanhã.
Nota do editor: aqui natal não tem letra maiúscula.
Um ano consegui concretizar um sonho antigo e fiquei sozinho na fatídica noite de natal. Os desdobramentos foram enormes, com gente me acusando, como se eu “não pudesse fazer isso com os outros”, e apontando dedos como seu eu fosse o norte da delinqüência. Eu só queria ter o direito de dizer “não”. Só isso.
Outro dia, na fila do posto de gasolina, disse que, com base na tal lei cidade limpa, denunciaria uma série de prédios que ostentam gambiarras chinesas com o espírito natalino. Inclusive, coloquei na lista as fachadas de bancos e o caralho. Argumentei que, além do desperdício de energia elétrica, leis são leis e não entram em recesso em nome do aniversário do filho do criador. Se não tivesse verificado o papelzinho do cartão do banco e pedido o estorno de R$ 500,00 de um tanque de gasolina, o ódio súbito do frentista teria financiado a caixinha de natal do posto inteiro.
Mas tudo pode ficar pior. Por vezes, o natal é a costura de uma colcha de retalhos chamada família. Em outras vezes, ainda, pedaços adjacentes são incorporados sem que a alfaiataria católica dê o ponto e cruz da santa igreja. E é assim que o agregado fica com os pés descobertos enquanto patriarcas levantam taças e brindam Jesus. A linha é curta, frágil e a emenda de panos tão diferentes fica ainda mais evidente.
PPM tratou da comoção do “boas festas” no seu boletim de 28 de dezembro de 2007. À época, havia uma sombra de esperança. De lá lembramos que o amanhã é sempre um bom sujeito, o cara que traz o alento da incerteza – e é ela que motiva tanta gente a arriscar no dia seguinte. Mas a vida fica mais previsível a cada dia que passa. E o cotidiano é uma miopia quase sem cura.
Quase. Até amanhã.
Nota do editor: aqui natal não tem letra maiúscula.