um texto antigo
Small flowers crack concrete
O dia começou assim: como quem se despede de um grande amigo que tá pra morrer, dei um caloroso abraço de despedida e tranquei meu diploma na gaveta. “Fica aí, colega. Um dia a gente acerta as contas”. Coloquei uma roupa velha, caí pra São João e fui reto toda vida. De lá é tranqüilo, quebro no Arouche, contorno a Praça da República, São Luís e já era. É no centro, é num sebo, é um bico – ou não.
Não dá para sustentar os sonhos pro resto da vida, ainda mais quando uma porrada de merda chuta a porta da tua casa e entra sem dó. Sem contar as pequenas decepções dos e-mails não respondidos, as respostas padrão e a inexorável suspeita de que a coisa só tem a piorar. E são 25 anos, não posso deixar esse delay ganhar (mais) volume.
Me sinto cada vez mais bipolar. Racho o bico com as merdas que acontecem no lugar, com os sujeitos que trabalham por lá. Mas depois, como num segundo... “Breves são os anos, poucos a vida dura”.
Mas tem que saber lidar. A alma se aquieta com amenidades calculadas. É só fazer um roteiro mais ou menos metódico, não escapar muito dele e tá tudo certo. E outra: minha medida de Lair Ribeiro diz que isso é pra virar homem, entende? Tem moleque cheirando cola e querendo causar na frente da loja, histórias de quem já tomou 4 surras numa noite só – duas delas aplicadas pela nossa querida PM, uma por traficantes e a abre alas pelos seguranças do Madame Satã. E sobra gente que empata o mês “na correria”, morando mal na casa do caralho, ou ali do lado, num cubículo em cima duma galeria. Gente como o Dorival, que se descobriu “roleiro profissional” logo após ganhar a rua com a carta de demissão da Itautec no bolso. Um sujeito meio pitoresco, que entende muito de discos de vinil, e por conseqüência de música. Ele não vai ler o título com o inglês indefectível das rodas críticas-intelectuais, mas ele conhece a coisa à sua maneira. Cru, mas não menos relevante – pelo contrário.
Tem também o rei do mate, que em certas horas bate como Lexotan, o fliper com os crackers, as brejas, pingas e afins no final do expediente. Tem também o truta que passa lá para tomar uma e esticar a mão do seu jeito. Não posso retribuir da mesma maneira, não sei/não tenho como/ não tenho traquejo – e aí até somos parecidos. Mas se pá eu vou lá no tal do protoloco e bato um carimbo. E desse jeito eu selo uma espécie de “uma mão lava a outra” e ilusoriamente está feito.
Lá na loja também dá pra ouvir uns discos fodas, como o LP gravado só com músicas em inglês pelo Tim Maia, aquele com a lindíssima “With no one else around”. E isso tudo é bem assim. Tipo um soul, só que mais arrastado, e com uma cadência sem volta. Uma pequena flor, meu nego, racha sozinha um bloco de concreto. Mas nem só ela dá conta do serviço. A navalha do tempo faz igual, no melhor estilo “with no one else around”.
Feliz natal
Small flowers crack concrete
O dia começou assim: como quem se despede de um grande amigo que tá pra morrer, dei um caloroso abraço de despedida e tranquei meu diploma na gaveta. “Fica aí, colega. Um dia a gente acerta as contas”. Coloquei uma roupa velha, caí pra São João e fui reto toda vida. De lá é tranqüilo, quebro no Arouche, contorno a Praça da República, São Luís e já era. É no centro, é num sebo, é um bico – ou não.
Não dá para sustentar os sonhos pro resto da vida, ainda mais quando uma porrada de merda chuta a porta da tua casa e entra sem dó. Sem contar as pequenas decepções dos e-mails não respondidos, as respostas padrão e a inexorável suspeita de que a coisa só tem a piorar. E são 25 anos, não posso deixar esse delay ganhar (mais) volume.
Me sinto cada vez mais bipolar. Racho o bico com as merdas que acontecem no lugar, com os sujeitos que trabalham por lá. Mas depois, como num segundo... “Breves são os anos, poucos a vida dura”.
Mas tem que saber lidar. A alma se aquieta com amenidades calculadas. É só fazer um roteiro mais ou menos metódico, não escapar muito dele e tá tudo certo. E outra: minha medida de Lair Ribeiro diz que isso é pra virar homem, entende? Tem moleque cheirando cola e querendo causar na frente da loja, histórias de quem já tomou 4 surras numa noite só – duas delas aplicadas pela nossa querida PM, uma por traficantes e a abre alas pelos seguranças do Madame Satã. E sobra gente que empata o mês “na correria”, morando mal na casa do caralho, ou ali do lado, num cubículo em cima duma galeria. Gente como o Dorival, que se descobriu “roleiro profissional” logo após ganhar a rua com a carta de demissão da Itautec no bolso. Um sujeito meio pitoresco, que entende muito de discos de vinil, e por conseqüência de música. Ele não vai ler o título com o inglês indefectível das rodas críticas-intelectuais, mas ele conhece a coisa à sua maneira. Cru, mas não menos relevante – pelo contrário.
Tem também o rei do mate, que em certas horas bate como Lexotan, o fliper com os crackers, as brejas, pingas e afins no final do expediente. Tem também o truta que passa lá para tomar uma e esticar a mão do seu jeito. Não posso retribuir da mesma maneira, não sei/não tenho como/ não tenho traquejo – e aí até somos parecidos. Mas se pá eu vou lá no tal do protoloco e bato um carimbo. E desse jeito eu selo uma espécie de “uma mão lava a outra” e ilusoriamente está feito.
Lá na loja também dá pra ouvir uns discos fodas, como o LP gravado só com músicas em inglês pelo Tim Maia, aquele com a lindíssima “With no one else around”. E isso tudo é bem assim. Tipo um soul, só que mais arrastado, e com uma cadência sem volta. Uma pequena flor, meu nego, racha sozinha um bloco de concreto. Mas nem só ela dá conta do serviço. A navalha do tempo faz igual, no melhor estilo “with no one else around”.
Feliz natal
6 Comments:
Eu não preciso dizer, mas vou dizer: adoro seu texto. Espero que continue. Um bjo gigante.
e a pergunta é: correr prá onde? se descobrir, me dá um toque.
é por essas e outras que a gente entende "pq a vida é loca"....
questão não é ter um caminho alternativo, qto a isso não tenho mtas esperanças. mas acho q o esquema é cansar menos na corrida, entende?
eu ja to em marcha lenta.
mulher d sorte.
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